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quinta-feira, 19 de abril de 2018

As aberturas mais jogadas pela "elite" do xadrez mundial

Fazendo um levantamento,a título de curiosidade apenas, descobri um artigo bem interessante do treinador de xadrez Daniel Muñoz sobre quais foram as aberturas mais utilizadas pelos grandes mestres da elite do xadrez em 2016/2017. Tudo bem, faz dois anos já mas as coisas não foram muito diferentes em 2017... Entendemos como "elite" aqueles jogadores que possuem, pelo menos, 2.700 de rating. Não se trata de menosprezar os "2600", apenas a lista precisa ter uma referência de força e escolhi os "2700" para isso.


Em 2016, os melhores jogadores do mundo,  eram os seguintes:


Então, qual a jogada inicial mais utilizada por eles, 1.e4? 1.d4? Outras? Vamos às estatísticas:

Ao que parece os super grandes mestres preferem, realmente, iniciar com 1.e4 ou 1.d4, com uma leve vantagem de acordo com o diagrama abaixo.


Aberturas após 1.e4:
Contra o lance do peão do rei a resposta mais utilizada pelos jogadores +2700 continua sendo 1-...e5, superando a siciliana. A variante Berlim, na Ruy López, segue sendo a arma favorita desses jogadores, uma verdadeira dor de cabeça para as brancas. Carlsen vs Karjakin que o diga...

As outras respostas mantiveram as mesmas médias (Caro-Kann, francesa, etc...). Não podemos deixar de mencionar, apesar dessa manutenção da média geral, o crescimento da abertura italiana nos torneios de elite. O fato é que a Berlim realmente está se mostrando bastante eficaz e as brancas estão buscando outros caminhos.


Sobre a abertura espanhola...
Mesmo com a enorme quantidade de "partidas Berlim", afortunadamente (para alguns aficionados) esta variante perdeu um pouco de sua popularidade, quem sabe não veremos outras variantes acontecendo com mais frequência, uma Breyer, uma Zaitsev... Aparentemente a variante com "d3" está sendo bastante utilizada também, esta variante era utilizada basicamente apenas pelos jogadores de elite anos atrás, a mais popular é a linha tradicional com Te1. Tanto Carlsen como Caruana foram muito importantes na retomada da variante com d3, elaborando planos interessantes, principalmente com o posicionamento do bispo em "a2" ao invés de c2... No gráfico abaixo temos o crescimento da variante com d3 no últimos anos.

E o que dizer sobre a defesa siciliana?

Não podemos esquecer a hegemonia que a Siciliana tem há anos. No gráfico abaixo você pode ver que seu interesse tem crescido, é uma defesa que nunca deixará de estar presente, mas tem havido uma pausa desde o ano de 2016 em que sua popularidade parou de crescer à custa de a espanhola.

O que podemos observar, na siciliana, sobre as variantes mais usuais? Bem, como acontece com a abertura espanhola, na siciliana temos uma variante que se impõe a todas as outras, é a combativa Najdorf. Contra isso, os GMs tentaram maneiras diferentes de conquistar iniciativa e, levando em conta a vantagem com a qual eles iniciaram o primeiro movimento que é significativo neste nível, eles pontuam 55,8% do tempo. Como eu estava dizendo, contra o Najdorf eu não acho um padrão claro ou uma preferência por parte dos melhores, nós optamos por um número de jogadas e idéias muito heterogêneas como Ae2, Ag5, h3 ... 

Por outro lado, em quase todas as partidas sicilianas, optam por estruturas com d6, deixando de lado outros esquemas mais comuns como e6 ou Cc6 sem definir a estrutura na primeira fase da abertura.


  A Variante Najdorf é jogada em 92,4% das ocasiões em que é possível considerar.


Aberturas com 1.d4!

Como você verá no gráfico abaixo, parece claro que a resposta mais popular é 1.. Nf6 com 78% das respostas. Longe está o clássico 1 ... d5 com 20% dos jogos. Ou seja,  1... Nf6 tem um monopólio claro. Agora, o que acontece daqui?

Depois de Cf6 as tem a possibilidade de jogar esquemas indianos com g6 (índia do rei, Grunfeld, Benoni moderna, etc...) ou jogar mais solidamente com e6. Como esperado, e6 ganha consideravelmente para os jogos com esquemas com "fianchetto" (74% contra 23% dos fianchettos), aqui você pode ver as estatísticas:


E neste momento é difícil fazer uma discriminação de variantes, no entanto,podemos dar-lhe algumas informações baseadas em observações gerais:


  • Contra 3. Cc3, a Nimzoindia é jogada em 97% dos casos. Novamente nos deparamos com um "caso Najdorf", ou seja, uma variante que prevalece sobre todos os outros.
  • Contra 3. Nf3, em 75% dos jogos o negro opta por sistemas sólidos com d5 e Ae7, muitas vezes entrando em estruturas do tipo Carlsbad. Por falar em Carlsbad, todo jogador que pretende jogar com 1.d4, d5, deve estudar essa formação. Somente em 25% dos casos restantes o negro utiliza a índia da dama. Vale ressaltar que, nos casos em que o negro não escolhe Ae7, ele costuma jogar a Variação Ragozín, que, curiosamente, não é muito comum no xadrez amador.
  • As vezes as brancas escolhem linhas com 5.Bf4. Isso não deve ser confundido com o agora famoso sistema London em que as brancas jogam rapidamente o bispo a "f4",porque, nestes casos, o peão não está em c4, ele é levado a c3.
Apesar de todas essas estatísticas, é claro que o fator "preferências do jogador" se sobrepõe a tudo isso. Várias aberturas que são muito boas nem sequer foram citadas, mas vale ressaltar que se trata de estatísticas baseadas no que os "jogadores de elite" usam! 

Quando passamos a analisar no nível amador isso muda drasticamente! Defesas que nem foram citadas (como a francesa, caro-kann, pirc, Benko, holandesa, etc..) ganham seu espaço com excelentes resultados, porém, isso é uma discussão para outra ocasião.